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Intuição, autonomia e resiliência: virtudes que a mulher que viaja sozinha só desenvolve viajando

Atualizado: 4 de jul. de 2020

De todas as coisas que poderiam ter dado errado, essas que eu vou contar só aconteceriam comigo. A minha última viagem foi um fiasco, mas ao mesmo tempo foi um dos momentos de maior crescimento pessoal que vivi nos últimos dias. Vale a pena ser compartilhado com outros viajantes solitários, especialmente as mulheres.


Eu queria muito conhecer a região dos vinhedos italianos, o interior da Região de Piemonte que é Patrimônio da Humanidade pelas suas paisagens vinícolas. Mas além do desafio de encontrar lugares para dormir e comer (no meu orçamento) no meio de uma imensa paisagem rural, eu não imaginava o quanto a pandemia tinha transformado as zonas agroturísticas em um grande deserto, e que as coisas não estariam nem perto de se reerguer.


Assim, com tudo dando "errado" eu percebi o quanto essas virtudes estão se fortalecendo em mim: A intuição, a autonomia e a resiliência foram as três coisas que eu mais pratiquei e que salvaram a minha mente e o meu humor nessa jornada. Também passei a observar o quanto situações adversas são, na verdade, momentos de aventura, descoberta, e boas histórias pra contar.


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Intuição


Desde que eu começei a planejar e a executar esse plano percebi que seria complicado. Foi muito difícil encontrar lugares para dormir que não fugissem tanto do meu orçamento, e eu tive que mudar o meu roteiro várias vezes para encaixar nessas disponibilidades. Como eu gosto de caminhar bastante, é bom que uma pousada esteja a no máximo 10 km da outra.


Assim que fiz as reservas, coisas começaram a acontecer, coisas estas que diziam: "talvez não seja a melhor hora". Mas a meteorologia previa dias perfeitos e eu fui assim mesmo. A questão é que: pode ser que fosse a voz da intuição, mas também poderia ser o medo, o receio, a voz da zona de conforto dizendo: "não vá, não se arrisque, fique aqui no calorzinho do conforto." Às vezes é bem difícil distinguir as duas vozes... prossiga a leitura e você vai ver o que quero dizer.


Autonomia


Eu exerci a autonomia em duas situações: a primeira foi gastar o melhor do meu italiano básico pedindo informações.


Eu cheguei à cidade de Alba no fim da manhã com o objetivo de tomar um ônibus para Montelupo Albese, uma cidadezinha de 400 habitantes que fica a 10 km de Alba, bem no meio da paisagem vinícola de Langhe-Roero. Só havia 3 ônibus por dia para lá: pela manhã, à tarde e à noite. O da manhã já tinha passado e o próximo seria no início da tarde.


Aqui na Itália a gente compra bilhete de ônibus nas lojinhas que vendem cigarro, chamadas Tabacchi. Eu fui a uma delas e o vendedor me disse que ali não vendiam bilhete, somente nas bancas de jornal ou dentro do ônibus. Ele me indicou uma banca e eu fui, lá a senhorinha me disse que não se vendiam bilhete de ônibus, apenas se comprava dentro do próprio ônibus. Eu fui pro ponto do ônibus e lá perto tinha outra edicola, resolvi tentar outra vez e tive a mesma resposta: só se compram bilhetes dentro do ônibus.


Quando o ônibus chegou, adivinha? Não se vendem bilhetes dentro do ônibus.


O ônibus partiu e eu fiquei. O próximo só sairia à noite, e eu pensei: "continuo aqui perguntando até alguém me dar uma informação precisa sobre como comprar o bilhete e espero a noite ou... vou caminhando."


Essa foi a minha segunda autonomia.


Ninguém precisa fazer um curso de línguas antes de embarcar numa viagem transcultural, ou ter preparamento físico de atleta para estar disposto a subir 10 km montanhas a cima com uma mochila cargueira nas costas. Essas coisas a gente desenvolve quando viaja, e são coisas que te dão autonomia. Se eu fosse totalmente dependente da minha língua nativa ou do inglês, ou se achasse que uma caminhada de 2:30h é muito absurda, eu teria voltado dali mesmo. Mas prossegui.


Essa situação me ensinou a autonomia, a desenvolver habilidades mínimas de comunicação e locomoção e, principalmente, a autonomia mental de acreditar que eu sou capaz de considerar opções fora do óbvio, e capaz de fazê-las. E que quanto mais eu estiver disposta a aprender, maiores serão as aventuras vividas, as histórias contadas e as lições aprendidas.


Resiliência


A busca frustrada por um bilhete, as diversas informações erradas que causaram a perda do ônibus e a caminhada foram o meu primeiro teste de resiliência.*


Quando eu cheguei à pousada no fim do dia, descobri que não havia lugar para comer. Eles tinham um restaurante, mas eles não me disseram que estavam fechados por falta de clientes após a pandemia e a reabertura gradual do turismo. Pediram desculpas por "esquecerem de me avisar".


Quando soube que não teria comida ali, coloquei o tênis e fui a Montelupo que fica a 3 km da pousada. Cheguei lá quase anoitecendo e o que encontrei foi uma cidade fantasma. Não havia uma pessoa sequer, e a cidade silenciosa com apenas uma rua tinha pinturas de lobos em todas as paredes. Meio mísitico, um pouco intimidador.


Eu voltei os outros 3 km caminhando devagar e apreciando o pôr do sol. Parei por uma plantação de cerejas à beira da estrada e fiz ali a minha última refeição do dia. Isso me fez refletir sobre como situações assim despertam em nós o instinto adormecido de caça e de sobrevivência. Eu nunca tinha feito uma trilha tão atenta às coisas comestíveis!


*Essas situações não testaram a resiliência que já existia em mim. Eu aprendi e desenvolvi a resiliência ali, naquela hora. Depois de tudo isso eu entendi que a voz do início da história era de fato a voz da intuição, e que eu não poderia permanecer ali por mais dias... Dei um jeito de voltar, mas não sem antes insistir mais um pouco. Só que se for a intuição falando, ela não se cala. Essa é uma forma de reconhecê-la.


Uma viajante mais sábia, uma mulher mais forte


Mulheres crescem aprendendo a silenciar a intuição, e a ouvir especialmente a opinião dos outros. Não é fácil para nós despertar esse instinto e voltar a ouvi-lo, e a deixar essa voz falar. Mas ela está ali para nos proteger e nos orientar, e a única forma de empoderá-la é começar a ouvi-la. O máximo que eu consigo fazer é colocar ela para dialogar com a "razão", e tentar perceber o que cada uma está dizendo.


Com tudo dando "errado" eu provavelmente ficaria mal humorada desde o primeiro problema, talvez teria desistido e retornado lá do ponto de ônibus mesmo. Talvez nem quisesse mais voltar a essa cidade de novo. Mas dizem que "não é uma aventura até que algo dê 'errado'", e pensando nisso eu diria que nunca devemos desistir logo na primeira dificuldade. Se for assim, nem saia de casa, pois dificuldades existem e roteiro é uma ilusão.


Eu fiquei orgulhosa de mim com a resiliência que desenvolvi nessa experiência, e sei que ela me tornou mais forte para outras aventuras, e mais sábia para a vida, em geral.


Viajar transforma as pessoas. Mas para as mulheres que viajam sozinhas, a transformação é ainda mais intensa. Quando você encara e se permite crescer nessas situações, não há problema na vida que você não consiga vencer. Viaje.

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