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Trilhas que atravessam a fronteira da Itália com a França: Valle Stretta, Lac Vert e Mont Thabor

Foto do escritor: SabrinaSabrina

Atualizado: 29 de jun. de 2020

No momento em que escrevo esse texto estou no Vallée Étroite, na França, que em italiano se chama Valle Stretta, ou vale estreito: É formado pelos Alpes na fronteira da Região de Piemonte, na Itália com a cidade francesa de Névache.


Eu fui parar nesse paraíso a pé, buscando trilhas para fazer no último dia da primavera, e vou organizar o relato em forma de roteiro, com custos, mapas e reflexões pelo caminho.


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Saindo da Itália e caminhando até a França: Valle Stretta

Eu fui de trem de Torino (Turim) até Bardonecchia, uma cidadezinha italiana na fronteira (leia os posts sobre ela). Depois peguei a estrada que conecta Bardonecchia a Névache e fui andando até o Valle Stretta. São 8 km, e pra quem gosta de caminhada eu recomendo: na primeira parte do percurso eu dividi espaço com os carros no asfalto, mas muita gente caminha e pedala ali. Então é uma coisa comum para os motoristas, eles andam bem devagar, é seguro.


Logo que atravessei a fronteira e entrei na França começam a surgir trilhas para caminhantes paralelas ao asfalto e a vista das montanhas foi ficando cada vez mais espetacular. O Valle Stretta começa a se chamar Vallée Étroite, mas não se preocupe, muitas placas são bilíngues e todo mundo nessa zona de fronteira fala as duas línguas mais o inglês.


O Lago Verde (em francês, Lac Vert)

Eu escrevo em francês porque se você for usar esse roteiro, é bom saber que algumas placas estão em francês.

O Lago Verde era o meu destino final, que fica a mais ou menos 1,5km do refúgio que escolhi para me hospedar (falo mais disso no fim do texto). Eu saí às 10 h de Bardonecchia e cheguei às 13:30h no refúgio (parei mil vezes, pra comer, descansar e apreciar). Resolvi que era muito cedo pra ficar por ali e passei direto para pegar a trilha para o lago, com a mochila mesmo.


É uma estrada larga a princípio, com muita gente caminhando (isso me impressionou). Um km depois tem uma placa para o lago que indica a direita, e aí começa uma trilha que atravessa o rio e segue no meio de pedras. Eu me perdi a primeira vez, pois assim que atravessei a trilha peguei a direita. Quando percebi que errei e resolvi voltar ali, notei uma pedra escrito LV e uma seta para a esquerda, que eu supostamente deveria ter visto antes.


Então anota: depois que passar pelos refúgios, segue a estrada, segue a placa "Bienvenue au lac vert", atravessa o rio e fique atento para pegar a trilha que segue para a esquerda e sobe as pedras. A parte boa de ter muita gente é que é fácil localizar a trilha quando tem gente passando por ela. É só seguir o fluxo.


Duas coisas me impressionaram bastante: (1) as águas do lago cor de esmeralda com a sua formação geológica (ele é represado por deslizamentos de avalanche dos alpes) e (2) a quantidade de idosos e crianças de colo dando um show de destreza nas trilhas!


Eu ainda estou buscando vocabulário pra descrever a beleza do lago verde, que é muito mais impressionante do que nas fotos. Incrivelmente gelado, cristalino e calmo.


Sair caminhando de Bardonecchia e chegar até o Lago Verde (e depois voltar para o refúgio) é passeio para um dia produtivo mas não exaustivo. É um roteiro slow travel perfeito. Por isso, já teria me dado por satisfeita e planejava retornar no dia seguinte.


Só que na volta para o refúgio eu vi um mapa na parede cujo centro era o Monte Thabor. Eu olhei para o lado e lá estava ele, imponente e majestoso bem no final da trilha principal. Meus planos mudaram imediatamente.


O Mont Thabor



O pico do Mont Thabor ultrapassa 3200 metros acima do nível do mar, e o refúgio (Refuge) I Re Magi, onde eu me hospedei, está a 1760 m. O Mont se localiza no território de outra cidade francesa, Orelle, mas o caminho principal para chegar até ele é por essa trilha do Vallée Étroite em Névache mesmo.


Existem muitas trilhas em excelente qualidade até próximo do pico e muito bem sinalizadas. O percurso seria uma caminhada de 7,5 a 8 km a partir do refúgio, e eu levaria mais ou menos 3 horas e meia pra percorrer se fosse direto. Mas é impossível não parar, seja para admirar ou para recuperar o fôlego.


Quando cheguei na metade do caminho encontrei uma placa para o Lac Lavoir e fiz um desvio de 20 minutos para esse pequeno e belíssimo lago, cuja trilha margeia o rio que é alimentado pelo próprio lago.


Ao chegar ali e sentar um pouco para me proteger do vento, concluí que eu não poderia mais prosseguir com a jornada. Por não saber da existência do monte, eu não me preparei para essa aventura. Fui apenas com um agasalho comum, e as dores de frio nas mãos, nos pés e no ouvido estavam ficando muito fortes. Voltei frustrada, tentando me convencer de que não havia motivo para me frustrar por não cumprir um objetivo que até a noite anterior era desconhecido, e que eu já sabia que pela falta de preparo não seria totalmente alcançado.


O que eu tenho a dizer dessa experiência é: Se prepare para o vento gelado, com corta-vento e luvas, gorro em vez de chapéu. MESMO NO VERÃO. Leve comida (além do pequenique do refúgio, leia abaixo) pois a fome é avassaladora naquele frio. Mas eu quero/preciso muito voltar e apreciar novamente a sensação única de estar lá no topo do mundo.


Eu acho que o Lac Lavoir fica a pouco mais de 2000 metros de altitude (veja o mapa no fim do texto).


Existem duas formas de alcançar o monte: por trilhas que contornam o Mont Thabor pela direita ou pela esquerda. São ótimas trilhas que se conectam lá em cima então dá até pra rodear, foi o que o gestor do refúgio me disse. Infelizmente eu só fiz uma parte de cada uma delas e não cheguei no ponto em que elas se encontram.


Como funcionam os refúgios

Os refúgios são albergues nas montanhas que oferecem abrigos aos caminhantes. Eles costumam estar distribuídos de forma estratégica nas trilhas mais importantes, a uma distância máxima de uns 7-8km um do outro. Na verdade, existem roteiros de refúgio-a-refúgio bem conhecidos e praticados em que os viajantes dormem uma noite em cada lugar e seguem viagem no dia seguinte. Veja um exemplo aqui.


Por ter esse perfil, os refúgios oferecem jantar e café da manhã inclusos na diária, que custuma ser bem mais barata do que albergues tradicionais, já que não há mercados ou restaurantes em regiões assim. Além disso, eles disponiblilizam a opção de um piquenique para o viajante levar no percurso do dia seguinte. É importante mencionar que os viajantes levam seus prórpios sacos de dormir, e se você não tiver o seu, vai ter que alugar a roupa de cama. Os preços variam entre 5 e 10 €.


No piquinique tinha: um sanduíche de presunto, uma saladinha de arroz (com talheres descartáveis), um barrinha de chocolate, uma barrinha de cereais, um biscoito e um suco de caixinha. Eu digo que teria valido a pena pedir só o sanduíche (que era 3.50 ) e eu mesma ter levado o resto, gastando menos e produzindo menos lixo. Mas foi uma experiência, aqui estou eu pra te contar.


Nesse percurso que fiz havia duas fontes de água mineral na estrada, além dos rios gelados que nascem nas montanhas (e portanto, de água limpa). Eu tenho comigo 2 garrafinhas retornáveis de 500 mL cada, e é mais que suficiente. Eu também levei maçãs e chocolate na mochila, com meus talheres retornáveis que sempre viajam comigo. Não leve bananas, não importa o quão verdes e firmes elas estejam! Escuta meu conselho!


No Refuge I Re Magi, onde fiquei, a diária para dormir no quarto coletivo era 42 , com café e jantar inclusos (uma comida maravilhosa), e o piquinique custa 10 . Isso foi tudo o que gastei por dia. A passagem de trem de Turim até Bardonecchia custa 7.20 e os custos dessa parte da viagem estão em outro texto.


Embora eu tenha feito o percurso na virada da primavera para o verão, o gestor do refúgio disse que no inverno o Valle Stretta é igualmente bem frequentado, apesar do frio e da neve.



Enquanto escrevo este texto estou recebendo muitas perguntas nas redes sociais sobre viajar sozinha e o sentimento de solidão. Uma experiência como essa me faz sentir muitas coisas, mas solidão seria a última delas. Estar cercada pela natureza vibrante, no alto de uma montanha onde a minha vista alcança as belezas de dois países... É uma vivência necessária a todos os seres humanos, e se for feita sozinha/sozinho, será ainda mais forte e transformadora.


Se essa for a sua dúvida, eu indico essa leitura: mulheres que viajam sozinhas são agentes da transformação sustentável. Me acompanhe no instagram @sabrinassimon para ter mais detalhes nos posts, e boa viagem!

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