Formas alternativas de contaminação pela Doença de Chagas
- Sabrina Simon
- 8 de out. de 2014
- 3 min de leitura
Contaminação oral (pela alimentação) e vertical (de pais a filhos) da Doença de Chagas.

Há alguns anos aconteceram episódios de contaminação pelo protozoário Trypanosoma cruzi por meio de caldo de cana e açaí, no Paraná e no Pará, respectivamente. Isso assustou muita gente, pois até então quase ninguém sabia que poderia-se pegar a doença de Chagas dessa forma. Mas pode-se.
O que acontece é que no ciclo de vida que envolve os humanos isso não é tão comum, mas entre os outros hospedeiros vertebrados, sim. O parasito pode entrar pelas mucosas (cavidades do corpo abertas para o ambiente), principalmente se houver alguma ferida ou corte aberto, mas não necessariamente.
Nesses casos que aconteceram em 2006, o inseto vetor do parasito, o barbeiro ou percevejo (Triatomineae) infectado foi moído junto com a cana e o açaí, e as pessoas ingeriram todo o seu conteúdo. O parasito (que é o protozoário) pode ter penetrado pela parede do esôfago, do estômago ou do intestino. Sim, ele é capaz de resistir ao suco gástrico! E esses que passam pelo suco gástrico (que é um tipo de seleção) podem ser de alguma forma mais virulentos que as linhagens comuns (de acordo com autor da pesquisa). Só que, por causa dessa super barreira, para a contaminação oral ter sucesso, é preciso uma quantidade muito maior de parasitos (uns 100.000) do que pela picada do barbeiro, já que a maioria deles morre pela ação do ácido clorídrico no estômago.
Mas esta não é a única forma de contaminação oral. Existem mais duas muito interessantes. Uma delas é a ingestão de carne de caça mal cozida. Por quê? O parasito, durante o seu ciclo no corpo do hospedeiro vertebrado possui a forma amastigota. Esta é a forma reprodutiva intracelular, e ela possui afinidade pelo tecido muscular. Por isso os sintomas da doença de Chagas na fase crônica. Geralmente a carne que nós comemos é o músculo do animal, e uma peça mal cozida pode ter amastigotas vivos dentro da fibra muscular.
O segundo artigo fala sobre a transmissão materno-infantil da doença de Chagas. Mães chagásicas podem transmitir a doença para o filho pela placenta ou pelo leite materno. No caso do leite, um levantamento mostrou que há maior chances de acontecer se a mãe estiver na fase aguda da doença (aquela mais forte, logo após a infecção). Não foram encontrados parasitas no leite de mães na fase crônica (aquela em que o sistema imune mantém o parasita sob um certo controle), mas em alguns casos os filhos dessas mães foram infectados pelo parasita. Ao verificarem, perceberam que, em pelo menos um dos casos, a mãe tinha sangramento no mamilo (muito comum durante a amamentação). Ou seja, o protozoário não estava no leite, mas estava na corrente sanguínea, e havendo contato do sangue contaminado dela com a mucosa oral do bebê, a contaminação pode ocorrer.
Há muito mais coisas interessantes para se considerar sobre estes artigos, mas você já teria parado de ler se fôssemos falar de tudo num mesmo post. Então, quem sabe numa outra oportunidade?
Espero que a discussão tenha ficado clara e interessante! Não hesite em levá-la pra sala de aula (seja você aluno ou professor), em qualquer disciplina de Biologia!
Até o próximo!
Comments