Se você é novo por aqui, saiba que este não é apenas um blog de viagens. Ele fala de viagens sim, mas vai muito além do mero roteiro turístico. É um diário de viagens e descobertas pra te inspirar a viajar para dentro de você mesmo enquanto desbrava o mundo.
E se a sua jornada passar por Piemonte, no norte da Itália, saiba que você terá um mundo infinito de cultura, história e natureza, e um dos lugares onde você encontra tudo isso junto é na vista à Basilica di Superga, na cidade de Turim (ou Torino, em italiano). Mas presta atenção nesse relato, pois foi uma aventura conseguir chegar (e depois sair de) lá.
Aqui tem:
O contexto histórico da Basílica di Superga
Como chegar à colina
O que fazer lá (ou pelo caminho)
Como voltar

A Basílica di Superga é vista de todas as partes da cidade, pois está no alto de uma colina que fica a mais de 600 metros acima do nível do mar (e a mais de 400 metros acima de Torino). Especialmente à noite, quando a sua iluminação destaca as belíssimas formas desse patrimônio. Ela está situada no centro do Parco Naturale della Collina di Superga, um lugar incrível para fazer trilhas ou mountain bike, especialmente se você for no verão.
1. O contexto histórico da Basílica di Superga
A Basílica é a resposta de uma graça alcançada por um voto feito pelo Duque Vittorio Amedeo II e o Príncipe Eugenio di Savoia-Soisson em 1706. Ao subir a colina para observar a invasão dos exércitos Espanhol e Francês comandandos pelo Rei Luis XIV, eles oraram e fizeram uma promessa ali, ajoelhados diante da estátuta da Madonna delle Grazie: se vencessem a guerra, Vittorio Amedeo faria um grande templo dedicado a ela, em agradecimento.
Após o fim da batalha e a sofrida vitória, a construção começou em 1717, e 14 anos depois, a inauguração do templo em 1731.
Sob a Basílica estão as Tumbas Reais, onde estão enterrados 66 personalidades reais da dinastia Savoia (o site fala 62). Você não acreditaria na quantidade de cultura e história que existe ali. É impossível não se emocionar, pois a visita é guiada, e o que você vai ouvir e aprender do guia é de acelerar o coração.
2. Como cheguei à Collina di Superga
Eu fiz duas tentativas para visitar a Superga. Na primeira tentativa era domingo, e eu tinha que tomar 3 ônibus pra chegar lá. Enquanto esperava no ponto para pegar o último, o 79 que sobre a colina, um italiano passou e gentilmente me disse que ele não operava aos domingos.
Essa informação não estava em nenhum lugar, mas considerado que fazia apenas uma semana desde a reabertura dos museus italianos depois do Covid19, pode ser que fosse uma entre as diversas excepcionalidades desse período. O ponto de ônibus fica ao pé da colina e ao lado da estação do bondinho que também sobe até a basílica, mas que também não estava funcionando. Possivelmente pelos mesmos motivos.
Na segunda tentativa eu levei uma amiga indiana comigo. Dessa vez fomos em um sábado, e assim que chegamos ao ponto do 79 às 9:30h da manhã, descobrimos que ele só passaria às 13h. Sem saber o motivo, decidimos subir a colina caminhando. São 4 km muito agradáveis, e qual não foi a minha surpresa ver a quantidade de pessoas que fazem esse percurso caminhando, correndo ou pedalando. Apenas vá com um calçado confortável e protetor solar, nem se incomode com o tal do ônibus! É maravilhoso.
Como já contei ali no começo do texto, essa colina é um parque natural, e as trilhas são abertas. Eu quase desisti do passeio e me joguei no mato, se não estivesse de sapatilha. Era primavera e tudo estava tão verde! Me senti no Brasil! Se você fizer o percurso como eu, vai querer voltar pra explorar o parque, e eu super recomendo. Em breve farei o mesmo!
Continuando a história, quando chegamos no alto da colina nos deparamos com uma pequena vila que tem umas casas, uma tabacaria e um restaurante. Dali, ao lado da fonte de água, tem uma estradinha somente para pedestres, e são 10 minutos de caminhada por dentro do bosque até a Basílica. Você pode continuar pela estrada de asfalto por onde veio, mas cortar caminho pelo bosque foi uma surpresa maravilhosa e revigorante.
Então resumindo o roteiro de como chegar à colina: Se você estiver na Estação Porta Nuova, pode tomar o ônibus 61 ou 68 até o Sassi. Se estiver na Porta Susa, deve pegar o Tram 13 para ir à Piazza Castello, e lá pegar o 15 ou o 61 para o Sassi. Daí, ao chegar no Sassi, você só vira a esquina e escolhe entre o 79, o bondinho, ou as suas canelas. Aviso que tem uma fonte e água mineral perto do ponto de ônibus e outra na vilazinha.
Caso você tenha adquirido o Tourist Card, o bilhete do bondinho está incluído. Informe-se aqui.
Ao passar pelos outros pontos do 79 na estrada, eu vi uns cartazes dizendo que o serviço estava suspenso. Mas depois vi outro cartaz dizendo que só estavam suspensas entre 11h e 15h. No fim não era nada disso: o ônibus subia duas vezes ao dia: às 9h da manhã e às 13h da tarde. O Covid19 deixou todo mundo doido.
3. O que fazer lá
Como eu já disse, dependendo do seu espírito aventureiro explorador, há muito o que fazer, mesmo antes de chegar lá. Ao terminar a travessia do bosque, obviamente nos hipnotizamos pela majestade da Basília e a vastidão da vista.
Comida e banheiro:
Mas antes de nos jogarmos na hitória, a gente queria comer e encontrar um banheiro. O site da basílica-museu disse que haveria uma cafeteria e um restaurante ali, mas só a cafeteria estava aberta. Ela é bem simples e quase não tem opções. Comemos um sanduíche cada, tomei um chinoto (um refrigerante de limão siciliano, não gostei) e um sorvetinho: 17 EUR (aceita cartão). Só que tudo é de plástico, por isso tomei a bebida na lata mesmo e recusamos o café no copo descartável.
Ali do lado tem um banheiro simples mas limpíssimo.
Agora sim, o rolê: as informações sobre os horários de funcionamento também eram totalmente desencontradas. Fomos à porta da basílica perguntar a um senhor que vendia bilhetes ali, mas por precisarmos pagar com cartão, fomos à recepção do museu, na lateral do templo.
A Cúpula e a vista dos Alpes:
A nossa visita começou em torno do meio dia subindo a cúpula da basílica para ver a cidade e os Alpes lá de cima. Depois de uma escada em espiral maluca de tão íngrime, a gente tem a paisagem aberta até onde os olhos (ou a neblina) podem alcançar. Se tiver labirintite, sobe com calma. Aqui vai uma informação importantíssima:
A melhor época para visitar a cúpula da Basílica é no inverno, quando os Alpes estão nevados. E se você tiver tempo disponível, acompanhe a meteorologia: Torino é famosa pela neblina feita de poeira e um pouquinho de poluição. Essa poeira cobre os alpes e assim não podemos ver absolutamente nada por dias. Se puder, vá depois de uma chuva ou daquelas ventanias loucas que acontecem de vez em quando aqui. Só assim a vista estará limpa o suficiente.
Mas, apesar da neblina e da falta de neve na primavera Torinense, o espetáculo da vista é inenarrável. A Colina da Superga se tornou o lugar obrigatório de visita a todas as pessoas que me perguntam o que fazer e ver em Torino. Ainda não tenho palavras, então apenas digo: vá.
As Tumbas Reais:
Na descida da escada esquisofrênica (que dá muito mais medo do que a subida) percorremos o belíssimo templo da basílica, e por fim, seguimos para a vista às tumbas, acompanhadas do nosso guia super legal! Eu estava acompanhada de uma amiga indiana que fala somente inglês. O guia simpaticíssimo e muito esforçado deu o seu melhor para nos contar a história de forma que ela entendesse. Éramos só nós duas, e a mulher dele o acompanhou! Foi engraçado, pois ele começava a falar inglês, de repente falava uma palavra em italiano e desembolava a continuar no italiano. A minha amiga me olhava perdida e eu virarava pra traduzir alguma coisa pra ela, o que fazia ele voltar para o inglês. Um excelente contador de histórias!
Ele nos apresentou diversas pessoas importantes. A Rainha Margherita está enterrada ali (aquela da Pizza Margherita, ele conta a história). Ao nos apresentar as personagens, ele nos conta toda a história dos reinos da Itália (antes de ser Itália) até chegar à Segunda Guerra Mundial, quando morreu a última pessoa a ser enterrada ali, a Princesa Mafalda de Savoia, que retornava a Roma depois de visitar a irmã, na Bélgica, e foi capturada e levada para o Campo de Concentração de Buchenwald, juntamente com outros 500 italianos judeus. Morreu ali, em agosto de 1944.
Como é de se esperar, o lugar é subterrâneo e frio, mas maravilhoso! Eu queria ter ficado mais, e ouvido mais histórias.
Os apartamentos reais:
Não sei por quê, exatamente, essa parte do tour não estava aberta, mas entendi que era uma restrição devido ao Covid19. Foi uma pena, mas confesso que já estava realizada e satisfeita com tudo o que havia visto até o momento. Você pode ver as fotos e um tour virtual pelo site da basílica.
A tragédia da Superga, o acidente aéreo:
Em 4 de maio de 1949, os jogadores do time que era apelidado de Grande Torino, o maior da época, estavam voltando de um amistoso em Lisboa. Por causa dessa neblina que acabei de falar, o avião se chocou contra a torre da Basílica de Superga. Todos os tripulantes e passageiros morreram, somando 31 pessoas.
Curiosamente não existe sinal algum de dano decorrente do impacto, tudo foi restaurado. Mas atrás da igreja há um memorial com a foto dos jogadores e diversas homenagens, entre elas, a bandeira do time de futebol Chapecoense, de Santa Catarina.
4. Como voltar da colina para a cidade
Você já tinha visto um roteiro em que a pessoa, além de contar como ir, precisa contar como voltar? Eu estou rindo aqui, pois a necessidade de incluir esse tópico é em razão do perrengue que enfrentamos pra desvendar o mistério do tal ônibus perdido. Como eu disse, nada aqui é "só um roteiro".
Por volta das 13:30h já tínhamos feito tudo o que tinha para fazer e ver ali, já que as nossas roupas não nos permitia explorar muito mais do bosque. Perguntamos a respeito do ônibus à mulher do guia que nos acompanhou na vista às tumbas e depois ao memorial do Grande Torino. Ela disse que normalmente o ônibus pararia ali, no ponto em frente à basílica, mas não sabia se ele estava operando. Disse que se estivesse, deveria passar por aqui por volta das 14:30h.
Como tínhamos uma hora, resolvemos descer o bosque e voltar à vila para tomar um café (que não fosse em copo descartável) e averiguar melhor essa informação. Não havia café (estava tudo fechado ou fechando, era sábado à tarde) e a funcionária do restautante também disse a mesma coisa: "não sei se ele está funcionando, mas se estiver, pode ser que passe por aqui entre 14:30h e 15:30h".
Tem um ponto de ônibus ali do lado, e a gente tinha pensado: tomamos um café na vila e quando for a hora vamos para o ponto. Mas não havia café e nem uma sombra no ponto, então, lá vamos nós atravessar mais uma vez o bosque e tentar a sorte de pegar o ônibus no ponto da basílica. Se ele passasse, pelo menos estaríamos sentadas na sombra. Se não, faríamos o caminho dos 4 km de volta a pé. Tudo bem, a descida seria bem mais fácil...
E aí, ao sair do bosque 10 minutos antes das 14h, vejo o ônibus arrancando e saindo do ponto, e eu saí correndo igual uma doida atrás. Ele parou e nós entramos, aliviadas. Mais de meia hora antes da informação mais precisa que havíamos conseguido.
Lembra que eu havia dito que vi em algum cartaz que ele só subia a colina duas vezes por dia, às 9h e às 13h? Esse era o ônibus que subiu às 13h e agora iria descer. Era a nossa última chance de pegá-lo. Mistério resolvido, com sorte.
Só que não, exatamente.
O ônibus tomou o caminho oposto à estrada que nos levaria de volta para o Sassi, e acabamos saindo de Torino, indo para a sua "zona rural". Éramos as duas únicas passageiras, e fingindo de sonsas, não saímos dele quando o motorista parou e desligou o veículo em um ponto final. Depois de um tempo, ele partiu e finalmente tomou a estrada esperada. Um alerta: se você pegar o ônibus na basílica, fará esse percuros, mas não saia dele. Se você quiser pegar ele na vila, ele só vai parar ali no ponto depois de ter voltado desse passeio pra fora da cidade. Não se assuste se você vir o ônibus passando por ali e em vez de parar e for para a direção oposta. Ele vai voltar.
E foi assim que chegamos ao Sassi, depois à Piazza Castello e depois em casa. Foi assim que eu tive a vista mais incrível de Torino, mesmo sabendo que ela é ainda mais fantástica no inverno. Essa foi uma experiência super divertida e cheia de mais descobertas sobre a Itália.
Não deixe de visitar a Superga! Não deixe de visitar essa cidade maravilhosa que é Torino (ou Turim)!
Eu contei esta (e outras) história em vídeo, no post do Instagram:
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